sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Depoimento de Natália Coelho Chaves - Aluna do Curso de Letras que acabou de tomar posse como professora municipal em Itaguaí

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Depoimento de Natália Coelho Chaves - Aluna do Curso de Letras que acabou de tomar posse como professora municipal em Itaguaí


Minha vida, meu sonho.

Natália Coelho Chaves

Meu nome é Natália Coelho Chaves, estou no 6° período de Letras/Espanhol na FEUC e quero contar para vocês um pouco da minha história.

Com 14 anos de idade decidi ser professora. Meu pai não gostou muito, contudo, minha mãe amou a ideia. Fiz prova e entrei no colégio Normal, o famoso Instituto de Educação Sarah Kubitschek. Lá, aprendi a ser professora e me encantei ainda mais pela profissão. Foram quatro anos de muito estudo e trabalho árduo, até que, finalmente, chegou a hora da faculdade!

Sempre sonhei em estudar na FEUC e em 2010, consegui realizá-lo. Lembro-me que a primeira aula que tive foi Cultura Literária Brasileira, com o Professor Leandro Garcia. Eu cheguei uns 15 minutos antes e fiquei admirando a faculdade. Estava atônita! Até o teto parecia lindo! Rsrsrs...

Cada dia que passava, eu me encantava mais pelo meu curso. Em cada dificuldade, sentia que estava começando a criar o meu senso crítico e queria sempre mais. Minha sede de aprender era – e sempre será! – insaciável!

Quando estava no 3° período, comecei a ser voluntária em um colégio municipal. Menos de dois meses após, veio o chamado para ser estagiária em outra escola – também municipal – e eu fui. Neste recinto escolar, passei cerca de um ano e meio.

Durante esse tempo, desenvolvi três projetos: “Voz e Violão”, que tinha como objetivo lembrar sucessos do passado e transmitir mais cultura aos alunos (ocorreu três vezes), “Sarau em Sala”, que visava contar a história da poesia e sua aplicabilidade no cotidiano (ocorreu uma vez) e o “Encontro ARTE”, que misturou palestra sobre MPB, poesia e muita diversão (ocorreu uma vez). Nesses projetos, contei com a ajuda dos meus amigos, Professor Claudio Rafael (Artes Musicais –SME), Poeta Primitivo Paes, Professor Erivelto Reis (FIC) e Poeta Paulo de Ataíde (Aluno das FIC e também estagiário do Município do RJ).

Tudo foi um grande aprendizado para mim, contudo, eu queria mais. Creio que o sonho de maioria dos professores e futuros professores é ser funcionário público. Tentamos concursos e mais concursos almejamos um dia alcançar essa vitória. Lá no fundo, sabemos que um dia irá ocorrer, mas queremos que seja logo!

Recordo-me de quando estava no 4° período e, conversando com a Professora Lia Martins, ela me disse que eu seria uma grande vencedora em minha profissão, pois eu tinha todo o perfil e sempre estava buscando mais e mais. Ela percebeu que eu me adiantava nas matérias e me interessava muito nas aulas.

Dia 25 de setembro de 2011, prestei um concurso para o Município de Itaguaí, concorrendo a uma vaga de Professor DE-1, o famoso P2. Foram milhares de pessoas inscritas e eu consegui me posicionar em 423°. Com a redação, fui para 303° e com os títulos, desci para 353°. Não desanimei. Confiei em DEUS, que é fiel e me prometeu que eu seria mais que vencedora.

Estava à minha casa e recebi a notícia que havia sido chamada para me apresentar ao Município de Itaguaí no dia 24 de julho de 2012. Chorei, dei glória a DEUS, gritei... Foi uma grande alegria para todos!

No dia 03 de agosto de 2012, tomei posse da minha primeira matrícula. Ganhei de presente de DEUS, pois meu aniversário é dia 30 desse mês! Sou professora do Município de Itaguaí com 21 anos! Estou muito contente e realizada, pois sei que é um sonho realizado!

Agradeço ao meu DEUS por me dar todos os dias sabedoria dos altos. A minha família (em especial, minha mãe, Suely Mello Coelho Chaves e minha tia Vanuza Chaves Pimentel), por me amarem e estarem comigo em todos os momentos. Aos meus companheiros de caminhada (coloco em ordem alfabética para não ter briga! Rsrs) Bruno Saad, Rebeca dos Santos, Tiago França e aos demais, por orarem e torcerem por mim. E um agradecimento todo especial aos meus amados professores, e agora, colegas de trabalho (também coloco em ordem alfabética pelo mesmo motivo citado acima! Rsrs) Adriano Santos, Ana Lúcia Rimes, Arlene da Fonseca, Carlos César de Araújo, Claudia Atanázio, Erivelto Reis, Flávio Pimentel, Leandro Garcia, Lia Martins, Lorelaine Saurina, Lucy Julião, Maria José, Mauro Lopes, Norma Maria, Rafael Neves, Regina Sélia Iápeter, Valdemar Silva, Valmir Miranda e Zoraia de Araújo, pela paciência, dedicação e carinho comigo. Amo vocês!

Para encerrar esse depoimento, que foi pedido com muito carinho pelo Professor Erivelto Reis, compartilho uma música de Raul Seixas:

“SONHO QUE SE SONHA SÓ É SÓ UM SONHO QUE SE SONHA SÓ, MAS SONHO QUE SE SONHA JUNTO É REALIDADE!!!”.

Natália Coelho Chaves.

Rio de Janeiro, 06 de agosto de 2012.

terça-feira, 3 de julho de 2012

E-mail da aluna Vanessa Andre Amaral

À equipe do curso de Letras,

abaixo o e-mail da aluna Vanessa (6º período do curso de Letras - Português-Espanhol - manhã) e parabenizo a todos pelo trabalho sério e comprometido com a qualidade de nosso curso.Obrigada,
Arlene
--------------------------- Mensagem Original ----------------------------
Assunto: Agradecimentos
De: "Vanessa Amaral"
Data: Seg, Julho 2, 2012 4:43 pm
Para: arlene
--------------------------------------------------------------------------
Olá, professora Arlene.
Quero compartilhar minha alegria com a senhora e gostaria que fosse estendida aos demais professores.Fiz o último concurso para professor I de Espanhol do município do Rio de Janeiro e passei em 3º lugar. Devo essa alegria a todos que contribuíram para minha formação. Não vou citar nomes porque serei injusta se esquecer alguém. Mesmo porque todos os professores, inclusive coordenação, formam uma equipe maravilhosa e tenho certeza que todos, direta ou indiretamente, me ajudaram a alcançar esse objetivo. Muito obrigada, Arlene, pelo apoio, por me acolher mesmo na minha deficiência e acreditar em mim. Encerro a graduação sabendo que todas as experiências que vivi serviram, e muito, para o meu crescimento pessoal e profissional. E sei que ainda tenho um caminho muito longo a percorrer... Mas sei que estou preparada para isso, a FEUC me preparou. Eu só tenho a dizer: MUITO OBRIGADA!
Vanessa Andre Amaral





BIBLIOTECA DIGITAL

CLIQUE EM   http://feucnel.blogspot.com.br/p/livros-em-pdf-305-livros-gratis.html

Uma bela biblioteca digital, desenvolvida em software livre, mas que está prestes a ser desativada por falta de acessos. Imaginem um lugar onde você pode gratuitamente:
· ver as grandes pinturas de Leonardo Da Vinci ;
· escutar músicas em MP3 de alta qualidade;
· ler obras de Machado de Assis ou A Divina Comédia;
· ter acesso às melhores historinhas infantis e vídeos da TV ESCOLA
 e muito mais...

O Ministério da Educação disponibiliza tudo isso, basta acessar o site:


Só de literatura portuguesa são 732 obras!

Utilizem essa fantástica ferramenta de disseminação da cultura e do gosto pela leitura .



segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Conto: Cinema por Rafaela de Fátima Barbosa Santos

Para começo de história, era uma estudante normal. Passional do tipo “CDF”, com óculos, saia até os joelhos e cabelos trançados. Julieta era uma adolescente um tanto quanto diferente. Aos olhos de todos, ela simplesmente não existia. Nunca foi notada, percebida e deseja menos. Era desajeitada, andava mancando, e quando se arrumava, coitada, era melhor que não estivesse.
            A pobre que de pobre só se adjetivava seus modos, era podre de rica e sonhava com um casamento como o de seus pais. Nunca foi amada, e nem sabia direito o que era amar, dizia que amava porque todos diziam o mesmo nas telenovelas de que gostava.
Seus pais também a achavam muito desajeitada, e sentiam vergonha de levá-la nas reuniões de alta classe. Julieta, que nunca havia se apaixonado, sentia-se indigna de uma paixão e de ser desejada. Falava que quando se apaixonasse, saberia, porque sentira as borboletas no estômago como ouvira falar nas teledramaturgias.
            Quando chegou a época de vestibular, Julieta não se identificava com nada do que via nas listas de opções de cursos. Como era sonhadora, a infeliz Julieta, achava que seus sonhos enchiam os olhos alheios. Coitada, mal sabia que apenas os seus brilhavam com a falsidade que era sua vida vazia.
            Passava horas de frente à televisão, onde chorava, ria e falava com os atores. Seu sonho era ir ao cinema, mas uma vez sua avó lhe disse que lá é lugar de rapariga e só mulheres perdidas iriam para esses tipos de lugares. Julieta não sabia bem o que era rapariga, mas aceitava com respeito o que sua avó lhe dizia. Sempre aceitara tudo.
Conformava-se com o conforto do seu sofá e de sua televisão já colorida e nem ligava pelas zoações que eram feitas por seus amigos. Quando surgia algum comercial com chamado ao cinema, Julieta fechava os olhos e imaginava-se lá. Logo parava sua imaginação e pegava o terço, pois pensava estar pecando. Que felicidade insossa essa de Julieta, tão discreta e preta e branca como ela.
             Julieta tinha amigos, ou melhor, tinha uma amiga tão estranha quanto ela. A amiga insistia para que Julieta conhecesse novas pessoas e suplicava sua ida ao cinema. Julieta se afastava e com seus grossos livros ia à biblioteca, lugar que nada o habitava além dos livros velhos empoeirados e mofados e Dona Abigail, que apesar de ser detestada por todos da escola, era a melhor conselheira de Julieta.
Dona Abigail era a bibliotecária, viúva e com um tique no olho esquerdo que aterrorizava todos os alunos que se aproximavam dela, menos Julieta. Certa vez, quando Julieta comentou com ela sobre sua vontade de conhecer o cinema, Dona Abigail afirmou com o sorriso estampado:
-Cinema? Tenho grandes recordações de lá.
-Minha avó disse que é lugar de mulher da vida, que não posso ir lá. A senhora conhece?
-E-e-e-eu? Julieta, sou uma viúva de respeito e sai que já está na hora de sua aula.
-Mas é que já estou...
            E sem esperar que terminasse sua frase, Dona Abigail fechou a porta empurrando Julieta para fora. Julieta não entendeu muito bem, mas não se importou muito com as palavras ditas por Dona Abigail, sempre foi discreta e não insistia em seus pensamentos. Seguiu para casa onde podia ler, sonhar e desabafar em seu diário. Julieta não era mais uma adolescente, mas a sua inferioridade a fazia parecer infantil, pequena.
            Seus pais a interrogavam sobre sua decisão para o vestibular, queriam que prestasse concurso para Medicina, mas Julieta que mal podia ver seu próprio sangue não suportava a ideia.
-Você deve fazer o que pode dar uma vida confortável. Exclamava seu pai.
-Só falta querer ser modelo. Debochava sua mãe.
             Julieta não se conformava com sua indecisão, não entendia o porquê de tamanha rejeição de todos e sabia que não poderia ser modelo, muito menos bonita como as moças da tevê.
Escrevia sempre assim:... Essa vontade que me faz perder a razão, dizer sim quando se é não e fazer de tudo apenas confusão.
            Está tudo desenhado aqui, e o nome disso eu ainda desconheço..
E fechava seu diário grosso e cheio de papéis de bala. A frase de Julieta era complicada, esquisita e confusa como ela e nem a própria saberia explicar o porquê da escrita.
            Chegara o grande dia, o dia da escolha. Julieta estava triste e mentia estar decidida para todos da classe que zombavam-na dizendo :
-Julieta, por que você não faz literatura para decifrar esses versos malucos que faz?
-Ah, poderia fazer moda ou ser atriz, o que acha?
E caçoavam dela a todo tempo.
Em sua monotonia e distração, Julieta não respondia aos insultos e poucas vezes notava que era com ela. Como de costume, ia para seu refúgio conversar com os livros e com Dona Abigail.
-Preciso falar com a Senhora Dona Abigail. Precisa me contar mais sobre cinema, sei que é pecado mas penso nisso o dia inteiro.
Dona Abigail exclamou:
-Moça por algum acaso a senhorita pensa em ser atriz?
-Não, nunca pensei.
-Sabes que não tens beleza para isso.
-Sim, sei... Mas algo me fascina mais que a beleza das atrizes.
-Não consigo compreender, Julieta.
-Eu me imagino lá dentro, assistindo tudo, vendo tudo muito mais de perto. Mas essa história de rapariga me faz duvidar de toda arte, o que a senhora acha?
-Julieta, era esse livro que você queria?
Com a cabeça baixa e com a voz um pouco estremecida respondeu:
-Sim, este mesmo! Obrigada.
-Passe bem, boa tarde!
            E mais uma vez Julieta não desvendara a magia do cinema nem tão pouco compreendia o porquê da falta de respostas.
Julieta já estava começando a mudar, passara a questionar os assuntos.
No caminho, indo à sua casa, viu um outdoor que indicava um filme de Merlin Monroe. Julieta estava estática, seus olhos pela primeira vez se deixavam seduzir e reluziam junto com as luzes do outdoor. Foi empurrada por um senhor que passava pelo caminho. Ao esbarrar, derramou café quente em sua perna. Julieta, que nem notou as desculpas, continuou imóvel a observar. O senhor da bilheteria foi até a porta e perguntou se não gostaria de assistir, e lhe entregou o papel que indicava os horários. Julieta segurava o papel como quem segura um troféu. Lia, relia e permaneceu assim até chegar a casa.
Espantados pela hora, pois já marcavam às seis horas da noite; seus pais, que já a esperavam ao portão, perguntaram:
-Onde andava, Julieta?  Já viu a hora? E o vestibular?
Julieta entrou sem responder e pela primeira vez conseguiu causar preocupação em seus pais.
Abriu seu diário e colou na primeira folha já escrita, seu “bilhete”. Sentia-se no céu. Não conseguia ouvir uma só palavra de seus pais que a interrogavam, e já em sua cama adormeceu.
            No dia seguinte, pela manhã, Julieta resolve passar novamente à porta do cinema. Com a bilheteria ainda fechada, Julieta pede ao segurança que a deixe entrar.
-Está fechado, senhorita, não percebe? Exclamou o segurança ironicamente.
Respondeu que sim, e seguiu a entrar porta a dentro sem permissões. Julieta, pela primeira vez, não obedecia a uma ordem.
-Minha querida, você está com algum problema? Insistiu o segurança.
-Não, Senhor. Deixe-me ficar aqui sentada um pouco, eu pago se for preciso.
Mas não começou... E Julieta interrompeu com lágrimas nos olhos e exclamou:
-Por favor!
Sem entender, o segurança voltou a sua guarda, acendendo as luzes da sala.
Julieta estava nas nuvens, não acreditara que estava no lugar onde mais havia cobiçado por toda vida. Seus olhos refletiam todos os filmes que já havia visto, e sua imaginação captava cada detalhe daquele lugar. Ainda ali parada, fitava a cena que mais almejou e retinha dentro de si. Um misto de desejos consumia o coração de Julieta;  libertara-se da prisão que era sua curiosidade e descobria em si uma outra Julieta.
O coração que já saltava pela boca, os olhos estatelados, o suor frio e as mãos geladas, indicava o ápice de sua realização. Julieta passara a questionar-se, e existiu.
Ouviu ainda  a voz do segurança que dizia:
- Senhorita, por favor, precisa sair!
E ainda com lágrimas nos olhos, saiu com passos lentos e um olhar como se tivesse visto ouro; eles brilhavam. Tinha a certeza de que era, conseguia ser.
Não foi à escola neste dia, e seus pais sem saber o que estava acontecendo não entendiam tal inédito comportamento de Julieta. Ela havia se tornado pela primeira vez perceptível.
Ao chegar a casa, Julieta ainda com a mancha de café em sua saia do dia anterior, sem muito estardalhaço e com a mesma vontade insossa de viver, sempre monótona e passageiramente. Sentou-se em frente a tevê, e como de costume, por ali permaneceu. Porém, sem o terço.     

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O Amor Jamais Acaba por Cássia Cristina Gomes Ribeiro

Foi naquela noite fria do dia 07 de junho de 1995, no ponto de ônibus enfrente a Cinelândia no Rio de Janeiro, que Carlos conheceu Maria.  Uma mulher cheia de encantos e surpreendente. Seus cabelos e olhos negros reluzentes, o corpo sinuoso que o impactou. Carlos aproveitou a demora do ônibus e encheu-se de coragem para aproximar-se dela. Mas, quanto mais próximo estava sentia suas pernas bambas e sua coragem sair correndo. Maria não resistiu e perguntou?
          -Você está bem? O que houve? Está pálido.
          -Estou bem, deve ser um mal estar. Qual é o seu nome?
          -Maria. E o seu?
          -Eu, eu me chamo Carlos. Você mora próximo daqui?
          -Sim, moro em Madureira. E você?
          -Em São Cristóvão.
          Tudo estava indo bem. Tudo contribuía para um relacionamento além de uma simples amizade. E Carlos perguntou:
           -Você trabalha por aqui?
            -Sim, trabalho em um escritório de contabilidade. E você?
            -No Tribunal de Justiça, sou Analista de Sistemas.
            -Que bom! Você está aqui há muito tempo esperando o ônibus?
            -Sim. Vamos tomar um suco na Confeitaria Colombo?
            -Vamos.
            Carlos pensava: Essa mulher será minha até que a morte me leve. Pois, sabia que teria pouco tempo de vida, afinal, estava com uma doença linfática e teria aproximadamente seis meses de vida.
            Maria e Carlos conversavam, trocavam olhares, um acariciava a mão do outro. Tudo era mágico e perfeito.  Carlos perguntou:
            -Posso lhe falar uma coisa? Você é a mulher da minha vida.
            -Sério? O que houve? Há algo diferente entre nós dois. Preciso ir embora Carlos, minha mãe deve estar preocupada.
            -Maria, posso vê-la amanhã no mesmo lugar e horário?
            -Sim.
            E a cada dia os dois se envolviam mais. Carlos morava sozinho, pois, sua família era do Rio Grande do Sul. Habituado ir à casa de Maria, já era considerado como um filho, para Dona Neide, mãe de Maria.  Angustiado, precisava contar para Maria de sua doença e de seus poucos dias de vida. Maria fazia planos para o futuro, sonhava em casar-se, afinal, estava se preservando para o seu amado e em seu imaginário vinha o tão grande dia de seu casamento. Quando Maria falava sobre este assunto para Carlos, ele se alegrava e ao mesmo tempo sua alma se entristecia, porque esse dia poderia não chegar.
            Na calada da noite do dia três de outubro, Carlos entrou na madrugada pensativo, e esperou o dia nascer para abrir o jogo a Maria e tirar de vez a angústia de seu peito.
            Chegando à residência de Maria, estava determinado a não esconder coisa alguma para sua pérola preciosa. E disse:
            -Maria, preciso lhe falar algo importantíssimo.
            -Diga-me, você está tenso. É algo grave meu amor? Sua mão está um gelo.
            -Primeiro de tudo. Aconteça o que for, eu a amarei sempre.
            -Fale logo, você está me deixando nervosa.
            -No mês em que nos conhecemos, descobri que tenho uma doença degenerativa, ainda não descobriram a cura, e o médico diagnosticou que possuo vida aproximadamente por seis meses, ou seja, tem quatro meses em que estamos juntos e se você ainda me quiser, ficaremos  aproximadamente dois meses juntos.
            Naquele momento, o céu desabou. As lágrimas tomaram conta de seus rostos,  abraçaram-se e começaram a se beijar.
            De repente, Maria disse:
            -Você é a minha vida. Jamais o deixarei e não vamos ficar nem mais um segundo separados. Vamos nos casar.
            Os dois competiam com o tempo e o casamento foi marcado para o dia cinco de novembro. Muitos foram os preparativos, afinal, Carlos desejava que Maria fosse a mulher mais esperada para ser vista naquele dia.
            Com a chegada do dia do casamento, a noiva passou o dia inteiro se ornamentando para o seu amado, porque aquela noite havia sido planejada pelos dois. Às dezoito horas, as porta da Igreja da Candelária foram abertas. A família e amigos de ambos enchiam os bancos da igreja, e alguns comentavam: “Não sei por que esse casamento tão rápido. Será que está grávida?”
            E chegou a hora. Carlos estava lindo. Trajava um terno cinza escuro que trazia no bolso um lenço branco e a cada passo que dava até ao altar, as lágrimas vinham mais forte. A mãe de Carlos, Dona Luíza, não sabia da doença do filho, consolava-o, enxugando as lágrimas, e dizia:
            -Filho, por que tanto choro? Não está feliz?
            -Pelo contrário mãe, hoje é o dia mais feliz da minha vida. A senhora vai conhecer a mulher que sempre esteve em meus sonhos. Sou um homem que recebi dos altos céus um presente precioso, a Maria.
            Carlos acabara de pronunciar o nome de Maria, começa a tocar a marcha nupcial. A noiva, belíssima, com um vestido cravejado de pedras brilhantes, carregava na cabeça uma coroa de princesa. À medida que dava seus passos vagarosos, em rumo ao seu prometido, toda igreja fitava os olhos nela. O noivo, com o olhar fixo na noiva sorridente, chorava e sorria ao mesmo tempo. Ao tocar nas mãos de Maria, beijou-a na testa e juntos foram para o altar. A cerimônia foi finalizada pelo Padre com a frase: “O AMOR JAMAIS ACABA”. Aquelas últimas palavras entraram no coração dos noivos como um bálsamo, afinal, ninguém sabia do segredo dos dois.
            Os convidados, a festa, as fotos, o bolo, o corte da gravata, o dia ímpar, os noivos se despediram, dando um adeus dentro do carro, que saiu carregado de latas penduradas no pára-choque.
            O casal foi para sua residência, o apartamento que Carlos já morava, e em fim sós. A noite não parecia ter fim, a lua cheia que clareava o quarto, o leve vento que balançava as cortinas, o mundo que girava ao redor dos dois e as juras de amor que faziam. Maria se entregou de corpo e alma para Carlos. O dia nasceu e os dois acordaram com o sol batendo no rosto. Um disse para o outro ao mesmo tempo:
            -Eu te amo.
            Dali em diante, os dias passavam cronometradamente, e o mês de dezembro estava chegando e a ansiedade bombardeava suas vidas. Já impossibilitado de trabalhar, havia dias em que Carlos encontrava-se com a saúde muito debilitada, trêmulo e às vezes desmaiava. Maria procurava passar tranquilidade a Carlos através da confiança que tinha em Deus. Saiu do serviço para dedicar-se totalmente a ele, pois, a cada dia a maldita doença o consumia.
            No dia quinze de dezembro, Maria deu uma notícia para Carlos.
-Adivinha o que está escrito neste papel?
Com um meio sorriso, disse:
-O que houve? Outro resultado de exame, outro diagnóstico médico pior, outra data premeditada para morrer?
-Não. O que tenho em minhas mãos é um resultado positivo de gravidez.
Por essa Carlos não esperava. O brilho que possuía no rosto contagiou os dois e Carlos já acariciava a barriga de Maria e disse:
-Meu bebezinho, você não conhecerá o papai, mas eu desejo a você toda a felicidade que um ser humano possa receber na vida. Chorando, Maria diz a Carlos que enquanto ele estiver vivo ainda tem esperança que seja curado.
Mas a doença se agravava ainda mais e no dia vinte e três de dezembro, Carlos disse:
-Maria, chegou a minha hora. Cuida do nosso filho. Por um longo período não precisará trabalhar. No dia em que nosso filho nascer, lembrarás de nós dois e eu estarei vivo dentro do seu coração. Peço-lhe, não chores mais, alegra a tua alma com a presença dessa criança.  
Na véspera do Natal, Carlos adormeceu para sempre e um dia encontrará na eternidade Maria e seu filho.