terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O Amor Jamais Acaba por Cássia Cristina Gomes Ribeiro

Foi naquela noite fria do dia 07 de junho de 1995, no ponto de ônibus enfrente a Cinelândia no Rio de Janeiro, que Carlos conheceu Maria.  Uma mulher cheia de encantos e surpreendente. Seus cabelos e olhos negros reluzentes, o corpo sinuoso que o impactou. Carlos aproveitou a demora do ônibus e encheu-se de coragem para aproximar-se dela. Mas, quanto mais próximo estava sentia suas pernas bambas e sua coragem sair correndo. Maria não resistiu e perguntou?
          -Você está bem? O que houve? Está pálido.
          -Estou bem, deve ser um mal estar. Qual é o seu nome?
          -Maria. E o seu?
          -Eu, eu me chamo Carlos. Você mora próximo daqui?
          -Sim, moro em Madureira. E você?
          -Em São Cristóvão.
          Tudo estava indo bem. Tudo contribuía para um relacionamento além de uma simples amizade. E Carlos perguntou:
           -Você trabalha por aqui?
            -Sim, trabalho em um escritório de contabilidade. E você?
            -No Tribunal de Justiça, sou Analista de Sistemas.
            -Que bom! Você está aqui há muito tempo esperando o ônibus?
            -Sim. Vamos tomar um suco na Confeitaria Colombo?
            -Vamos.
            Carlos pensava: Essa mulher será minha até que a morte me leve. Pois, sabia que teria pouco tempo de vida, afinal, estava com uma doença linfática e teria aproximadamente seis meses de vida.
            Maria e Carlos conversavam, trocavam olhares, um acariciava a mão do outro. Tudo era mágico e perfeito.  Carlos perguntou:
            -Posso lhe falar uma coisa? Você é a mulher da minha vida.
            -Sério? O que houve? Há algo diferente entre nós dois. Preciso ir embora Carlos, minha mãe deve estar preocupada.
            -Maria, posso vê-la amanhã no mesmo lugar e horário?
            -Sim.
            E a cada dia os dois se envolviam mais. Carlos morava sozinho, pois, sua família era do Rio Grande do Sul. Habituado ir à casa de Maria, já era considerado como um filho, para Dona Neide, mãe de Maria.  Angustiado, precisava contar para Maria de sua doença e de seus poucos dias de vida. Maria fazia planos para o futuro, sonhava em casar-se, afinal, estava se preservando para o seu amado e em seu imaginário vinha o tão grande dia de seu casamento. Quando Maria falava sobre este assunto para Carlos, ele se alegrava e ao mesmo tempo sua alma se entristecia, porque esse dia poderia não chegar.
            Na calada da noite do dia três de outubro, Carlos entrou na madrugada pensativo, e esperou o dia nascer para abrir o jogo a Maria e tirar de vez a angústia de seu peito.
            Chegando à residência de Maria, estava determinado a não esconder coisa alguma para sua pérola preciosa. E disse:
            -Maria, preciso lhe falar algo importantíssimo.
            -Diga-me, você está tenso. É algo grave meu amor? Sua mão está um gelo.
            -Primeiro de tudo. Aconteça o que for, eu a amarei sempre.
            -Fale logo, você está me deixando nervosa.
            -No mês em que nos conhecemos, descobri que tenho uma doença degenerativa, ainda não descobriram a cura, e o médico diagnosticou que possuo vida aproximadamente por seis meses, ou seja, tem quatro meses em que estamos juntos e se você ainda me quiser, ficaremos  aproximadamente dois meses juntos.
            Naquele momento, o céu desabou. As lágrimas tomaram conta de seus rostos,  abraçaram-se e começaram a se beijar.
            De repente, Maria disse:
            -Você é a minha vida. Jamais o deixarei e não vamos ficar nem mais um segundo separados. Vamos nos casar.
            Os dois competiam com o tempo e o casamento foi marcado para o dia cinco de novembro. Muitos foram os preparativos, afinal, Carlos desejava que Maria fosse a mulher mais esperada para ser vista naquele dia.
            Com a chegada do dia do casamento, a noiva passou o dia inteiro se ornamentando para o seu amado, porque aquela noite havia sido planejada pelos dois. Às dezoito horas, as porta da Igreja da Candelária foram abertas. A família e amigos de ambos enchiam os bancos da igreja, e alguns comentavam: “Não sei por que esse casamento tão rápido. Será que está grávida?”
            E chegou a hora. Carlos estava lindo. Trajava um terno cinza escuro que trazia no bolso um lenço branco e a cada passo que dava até ao altar, as lágrimas vinham mais forte. A mãe de Carlos, Dona Luíza, não sabia da doença do filho, consolava-o, enxugando as lágrimas, e dizia:
            -Filho, por que tanto choro? Não está feliz?
            -Pelo contrário mãe, hoje é o dia mais feliz da minha vida. A senhora vai conhecer a mulher que sempre esteve em meus sonhos. Sou um homem que recebi dos altos céus um presente precioso, a Maria.
            Carlos acabara de pronunciar o nome de Maria, começa a tocar a marcha nupcial. A noiva, belíssima, com um vestido cravejado de pedras brilhantes, carregava na cabeça uma coroa de princesa. À medida que dava seus passos vagarosos, em rumo ao seu prometido, toda igreja fitava os olhos nela. O noivo, com o olhar fixo na noiva sorridente, chorava e sorria ao mesmo tempo. Ao tocar nas mãos de Maria, beijou-a na testa e juntos foram para o altar. A cerimônia foi finalizada pelo Padre com a frase: “O AMOR JAMAIS ACABA”. Aquelas últimas palavras entraram no coração dos noivos como um bálsamo, afinal, ninguém sabia do segredo dos dois.
            Os convidados, a festa, as fotos, o bolo, o corte da gravata, o dia ímpar, os noivos se despediram, dando um adeus dentro do carro, que saiu carregado de latas penduradas no pára-choque.
            O casal foi para sua residência, o apartamento que Carlos já morava, e em fim sós. A noite não parecia ter fim, a lua cheia que clareava o quarto, o leve vento que balançava as cortinas, o mundo que girava ao redor dos dois e as juras de amor que faziam. Maria se entregou de corpo e alma para Carlos. O dia nasceu e os dois acordaram com o sol batendo no rosto. Um disse para o outro ao mesmo tempo:
            -Eu te amo.
            Dali em diante, os dias passavam cronometradamente, e o mês de dezembro estava chegando e a ansiedade bombardeava suas vidas. Já impossibilitado de trabalhar, havia dias em que Carlos encontrava-se com a saúde muito debilitada, trêmulo e às vezes desmaiava. Maria procurava passar tranquilidade a Carlos através da confiança que tinha em Deus. Saiu do serviço para dedicar-se totalmente a ele, pois, a cada dia a maldita doença o consumia.
            No dia quinze de dezembro, Maria deu uma notícia para Carlos.
-Adivinha o que está escrito neste papel?
Com um meio sorriso, disse:
-O que houve? Outro resultado de exame, outro diagnóstico médico pior, outra data premeditada para morrer?
-Não. O que tenho em minhas mãos é um resultado positivo de gravidez.
Por essa Carlos não esperava. O brilho que possuía no rosto contagiou os dois e Carlos já acariciava a barriga de Maria e disse:
-Meu bebezinho, você não conhecerá o papai, mas eu desejo a você toda a felicidade que um ser humano possa receber na vida. Chorando, Maria diz a Carlos que enquanto ele estiver vivo ainda tem esperança que seja curado.
Mas a doença se agravava ainda mais e no dia vinte e três de dezembro, Carlos disse:
-Maria, chegou a minha hora. Cuida do nosso filho. Por um longo período não precisará trabalhar. No dia em que nosso filho nascer, lembrarás de nós dois e eu estarei vivo dentro do seu coração. Peço-lhe, não chores mais, alegra a tua alma com a presença dessa criança.  
Na véspera do Natal, Carlos adormeceu para sempre e um dia encontrará na eternidade Maria e seu filho.