terça-feira, 22 de outubro de 2013

Affonso Romano de Sant'Anna e Marina Colasanti com Clarice Lispector

Publicado em 07/10/2013
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O casal Affonso Romano de Sant’Anna e Marina Colasanti, que conviveu com Clarice Lispector do início dos anos 60 até a sua morte em 1977, está lançando o livro “Com Clarice”, com textos sobre a escritora. São crônicas e ensaios, alguns inéditos, que esboçam um retrato sensível sobre a escritora. A obra conta ainda com a transcrição (quase 50 páginas) do depoimento dado por Clarice ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, em 1976, do qual Affonso e Marina participam a pedido da escritora.
Na primeira parte da obra, o casal relembra carinhosamente facetas do seu convívio com Clarice. As outras partes, “De Marina para Clarice” e “De Affonso para Clarice”, são compostas por diversas crônicas sobre a escritora escrita ao longo dos anos, além de três ensaios acadêmicos sobre temas centrais de sua obra, abordando livros como “A maçã no escuro”, “Laços de Família” e “A legião estrangeira”.
Com Clarice
• Affonso Romano de Sant’Anna e Marina Colasanti
• Editora Unesp
• 256 páginas R$ 38

100 anos do cronista Vinícius de Moraes

Publicado em 19/10/2013
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viniciusdemoraes

Neste sábado se comemora o centenário do nascimento do escritor Vinícius de Moraes. Bastante famoso por sua atuação como músico e poeta, Vinícius também teve significativa produção de crônicas, gênero bastante afeito ao jornalismo, com o qual esteve bastante envolvido.
Em 1941 Vinícius já era crítico cinematográfico em “A Manhã”, além de colaborador no seu “Suplemento Literário”.  Três anos depois se tornou o diretor do suplemento literário de “O Jornal”.  Em 1945, quando a publicação “Diretrizes” já era um jornal diário, Vinícius de Moraes passou a escrever para ela uma crônica por dia.
No ano de 1951, aceitou convite de Samuel Weiner para ser cronista, também diário, do jornal “Última hora”, onde também colaborou como crítico de cinema. A convite de Joel Silveira, começou a publicar em 1953 crônicas diárias para o veículo “A Vanguarda”.
Em 1962, pela Editora do Autor, de Rubem Braga e Fernando Sabino, lança “Para viver um grande amor”, livro de crônicas e poemas. Em 1964 colabora com crônicas semanais para a revista “Fatos e Fotos”, ao mesmo tempo em que assina crônicas sobre música popular no “Diário Carioca”.
Também pela Editora do Autor, publica em 1966 o seu livro apenas de crônicas, “Para uma menina com uma flor”.
Vinícius também usou o espaço da crônica para refletir sobre a produção do gênero. São ao menos dois os seus textos que se dispõem a refletir a atividade do cronista. Esses textos estão transcritos a seguir. Se o primeiro é mais leve e brincalhão, o segundo é bastante incisivo e propõe um modelo ideal para a crônica.
O exercício da crônica – Vinícius de Moraes
Escrever prosa é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como faz um cronista; não a prosa de um ficcionista, na qual este é levado meio a tapas pelas personagens e situações que, azar dele, criou porque quis. Com um prosador do cotidiano, a coisa fia mais fino. Senta-se ele diante de sua máquina, acende um cigarro, olha através da janela e busca fundo em sua imaginação um fato qualquer, de preferência colhido no noticiário matutino, ou da véspera, em que, com as suas artimanhas peculiares, possa injetar um sangue novo. Se nada houver, resta-lhe o recurso de olhar em torno e esperar que, através de um processo associativo, surja-lhe de repente a crônica, provinda dos fatos e feitos de sua vida emocionalmente despertados pela concentração. Ou então, em última instância, recorrer ao assunto da falta de assunto, já bastante gasto, mas do qual, no ato de escrever, pode surgir o inesperado.
Alguns fazem-no de maneira simples e direta, sem caprichar demais no estilo, mas enfeitando-o aqui e ali desses pequenos achados que são a sua marca registrada e constituem um tópico infalível nas conversas do alheio naquela noite. Outros, de modo lento e elaborado, que o leitor deixa para mais tarde como um convite ao sono: a estes se lê como quem mastiga com prazer grandes bolas de chicletes. Outros, ainda, e constituem a maioria, “tacam peito” na máquina e cumprem o dever cotidiano da crônica com uma espécie de desespero, numa atitude ou-vai-ou-racha. Há os eufóricos, cuja prosa procura sempre infundir vida e alegria em seus leitores e há os tristes, que escrevem com o fito exclusivo de desanimar o gentio não só quanto à vida, como quanto à condição humana e às razões de viver. Há também os modestos, que ocultam cuidadosamente a própria personalidade atrás do que dizem e, em contrapartida, os vaidosos, que castigam no pronome na primeira pessoa e colocam-se geralmente como a personagem principal de todas as situações. Como se diz que é preciso um pouco de tudo para fazer um mundo, todos estes “marginais da imprensa”, por assim dizer, têm o seu papel a cumprir. Uns afagam vaidades, outros, as espicaçam; este é lido por puro deleite, aquele por puro vício. Mas uma coisa é certa: o público não dispensa a crônica, e o cronista afirma-se cada vez mais como o cafezinho quente seguido de um bom cigarro, que tanto prazer dão depois que se come.
Coloque-se porém o leitor, o ingrato leitor, no papel do cronista. Dias há em que, positivamente, a crônica “não baixa”. O cronista levanta-se, senta-se, lava as mãos, levanta-se de novo, chega à janela, dá uma telefonada a um amigo, põe um disco na vitrola, relê crônicas passadas em busca de inspiração – e nada. Ele sabe que o tempo está correndo, que a sua página tem uma hora certa para fechar, que os linotipistas o estão esperando com impaciência, que o diretor do jornal está provavelmente coçando a cabeça e dizendo a seus auxiliares: “É… não há nada a fazer com Fulano…” Aí então é que, se ele é cronista mesmo, ele se pega pela gola e diz: “Vamos, escreve, ó mascarado! Escreve uma crônica sobre esta cadeira que está aí em tua frente! E que ela seja bem-feita e divirta os leitores!” E o negócio sai de qualquer maneira.
O ideal para um cronista é ter sempre uma os duas crônicas adiantadas. Mas eu conheço muito poucos que o façam. Alguns tentam, quando começam, no afã de dar uma boa impressão ao diretor e ao secretário do jornal. Mas se ele é um verdadeiro cronista, um cronista que se preza, ao fim de duas semanas estará gastando a metade do seu ordenado em mandar sua crônica de táxi – e a verdade é que, em sua inocente maldade, tem um certo prazer em imaginar o suspiro de alívio e a correria que ela causa, quando, tal uma filha desaparecida, chega de volta à casa paterna.

O exercício da crônica – Vinícius de Moraes (outra)
O cronista trabalha com um instrumento de grande divulgação, influência e prestígio, que é a palavra impressa. Um jornal, por menos que seja, é um veículo de idéias que são lidas, meditadas e observadas por uma determinada corrente de pensamento formada à sua volta.
Um jornal é um pouco como um organismo humano. Se o editorial é o cérebro; os tópicos e notícias, as artérias e veias; as reportagens, os pulmões; o artigo de fundo, o fígado; e as seções, o aparelho digestivo – a crônica é o seu coração. A crônica é matéria tácita de leitura, que desafoga o leitor da tensão do jornal e lhe estimula um pouco a função do sonho e uma certa disponibilidade dentro de um cotidiano quase sempre “muito lido, muito visto, muito conhecido”, como diria o poeta Rimbaud.
Daí a seriedade do oficio do cronista e a freqüência com que ele, sob a pressão de sua tirania diária, aplica-lhe balões de oxigênio. Os melhores cronistas do mundo, que foram os do século XVIII, na Inglaterra – os chamados essayists – praticaram o essay, isto de onde viria a sair a crônica moderna, com um zelo artesanal tão proficiente quanto o de um bom carpinteiro ou relojoeiro. Libertados da noção exclusivamente moral do primitivo essay, os oitocentistas ingleses deram à crônica suas primeiras lições de liberdade, casualidade e lirismo, sem perda do valor formal e da objetividade. Addison, Stecle, Goldsmith e sobretudo Hazlitt e Lamb – estes os dois maiores – fizeram da crônica, como um bom mestre carpinteiro o faria com uma cadeira, um objeto leve mas sólido, sentável por pessoas gordas ou magras.
Do último, a crônica “O convalescente” serviria bem para ilustrar o estado de espírito maníaco – lírico – depressivo do cronista de hoje, inteiramente entregue ao egoísmo de sua doença e à constante consideração de sua pessoinha, isolado no seu mundo de cortinas corridas, a lamber complacentemente as próprias feridas diante de um espelho pessimista.
Num mundo doente a lutar pela saúde, o cronista não se pode comprazer em ser também ele um doente; em cair na vaguidão dos neurastenizados pelo sofrimento fisico; na falta de segurança e objetividade dos enfraquecidos por excessos de cama e carência de exercícios. Sua obrigação é ser leve, nunca vago; íntimo, nunca intimista; claro e preciso, nunca pessimista. Sua crônica é um copo d’água em que todos bebem, e a água há que ser fresca, limpa, luminosa para a satisfação real dos que nela matam a sede.
Num momento em que o grande mal de grande parte do mundo é o entreguismo, a timidez e a franca covardia, o exercício da crônica reticente, da crônica vaga, da crônica temperamental, da crônica ególatra, da crônica à clef, da crônica da cartola – é um crime tão grande quanto o de se vender, em época de epidemia, um antibiótico adulterado. A restauração da crônica, no espírito da dignidade com que a praticaram os essayists ingleses do século XVIII, deveria constituir matéria de funda meditação por parte de seus cultores no Brasil.

A Repartição dos Pães – conto de Clarice Lispector

A Repartição dos Pães – conto de Clarice Lispector

Era sábado e estávamos convidados para o almoço de obrigação. Mas cada um de nós gostava demais de sábado para gastá-lo com quem não queríamos. Cada um fora alguma vez feliz e ficara com a marca do desejo. Eu, eu queria tudo. E nós ali presos, como se nosso trem tivesse descarrilado e fôssemos obrigados a pousar entre estranhos. Ninguém ali me queria, eu não queria a ninguém. Quanto a meu sábado – que fora da janela se balançava em acácias e sombras – eu preferia, a gastá-lo mal, fechá-la na mão dura, onde eu o amarfanhava como a um lenço. À espera do almoço, bebíamos sem prazer, à saúde do ressentimento: amanhã já seria domingo. Não é com você que eu quero, dizia nosso olhar sem umidade, e soprávamos devagar a fumaça do cigarro seco. A avareza de não repartir o sábado,ia pouco a pouco roendo e avançando como ferrugem, até que qualquer alegria seria um insulto à alegria maior.
Só a dona da casa não parecia economizar o sábado para usá-lo numa quinta de noite. Ela, no entanto, cujo coração já conhecera outros sábados. Como pudera esquecer que se quer mais e mais? Não se impacientava sequer com o grupo heterogêneo, sonhador e resignado que na sua casa só esperava como pela hora do primeiro trem partir, qualquer trem – menos ficar naquela estação vazia, menos ter que refrear o cavalo que correria de coração batendo para outros, outros cavalos.
Passamos afinal à sala para um almoço que não tinha a bênção da fome. E foi quando surpreendidos deparamos com a mesa. Não podia ser para nós…
Era uma mesa para homens de boa-vontade. Quem seria o conviva realmente esperado e que não viera? Mas éramos nós mesmos. Então aquela mulher dava o melhor não importava a quem? E lavava contente os pés do primeiro estrangeiro. Constrangidos, olhávamos.
A mesa fora coberta por uma solene abundância. Sobre a toalha branca amontoavam-se espigas de trigo. E maçãs vermelhas, enormes cenouras amarelas, redondos tomates de pele quase estalando, chuchus de um verde líquido, abacaxis malignos na sua selvageria, laranjas alaranjadas e calmas, maxixes eriçados como porcos-espinhos, pepinos que se fechavam duros sobre a própria carne aquosa, pimentões ocos e avermelhados que ardiam nos olhos – tudo emaranhado em barbas e barbas úmidas de milho, ruivas como junto de uma boca. E os bagos de uva. As mais roxas das uvas pretas e que mal podiam esperar pelo instante de serem esmagadas. E não lhes importava esmagadas por quem. Os tomates eram redondos para ninguém: para o ar, para o redondo ar. Sábado era de quem viesse. E a laranja adoçaria a língua de quem primeiro chegasse.
Junto do prato de cada mal-convidado, a mulher que lavava pés de estranhos pusera – mesmo sem nos eleger, mesmo sem nos amar – um ramo de trigo ou um cacho de rabanetes ardentes ou uma talhada vermelha de melancia com seus alegres caroços. Tudo cortado pela acidez espanhola que se adivinhava nos limões verdes. Nas bilhas estava o leite, como se tivesse atravessado com as cabras o deserto dos penhascos. Vinho, quase negro de tão pisado, estremecia em vasilhas de barro. Tudo diante de nós. Tudo limpo do retorcido desejo humano. ‘Tudo como é, não como quiséramos. Só existindo, e todo. Assim como existe um campo. Assim como as montanhas. Assim como homens e mulheres, e não nós, os ávidos. Assim como um sábado. Assim como apenas existe. Existe.
Em nome de nada, era hora de comer. Em nome de ninguém, era bom. Sem nenhum sonho. E nós pouco a pouco a par do dia, pouco a pouco anonimizados, crescendo, maiores, à altura da vida possível. Então, como fidalgos camponeses, aceitamos a mesa.
Não havia holocausto: aquilo tudo queria tanto ser comido quanto nós queríamos comê-lo. Nada guardando para o dia seguinte, ali mesmo ofereci o que eu sentia àquilo que me fazia sentir. Era um viver que eu não pagara de antemão com o sofrimento da espera, fome que nasce quando a boca já está perto da comida. Porque agora estávamos com fome, fome inteira que abrigava o todo e as migalhas. Quem bebia vinho, com os olhos tornava conta do leite. Quem lento bebeu o leite, sentiu o vinho que o outro bebia. Lá fora Deus nas acácias. Que existiam. Comíamos. Como quem dá água ao cavalo. A carne trinchada foi distribuída. A cordialidade era rude e rural. Ninguém falou mal de ninguém porque ninguém falou bem de ninguém. Era reunião de colheita, e fez-se trégua. Comíamos. Como uma horda de seres vivos, cobríamos gradualmente a terra. Ocupados como quem lavra a existência, e planta, e colhe, e mata, e vive, e morre, e come. Comi com a honestidade de quem não engana o que come: comi aquela comida e não o seu nome. Nunca Deus foi tão tomado pelo que Ele é. A comida dizia rude, feliz, austera: come, come e reparte. Aquilo tudo me pertencia, aquela era a mesa de meu pai. Comi sem ternura, comi sem a paixão da piedade. E sem me oferecer à esperança. Comi sem saudade nenhuma. E eu bem valia aquela comida. Porque nem sempre posso ser a guarda de meu irmão, e não posso mais ser a minha guarda, ah não me quero mais. E não quero formar a vida porque a existência já existe. Existe como um chão onde nós todos avançamos. Sem uma palavra de amor. Sem uma palavra. Mas teu prazer entende o meu. Nós somos fortes e nós comemos.
Pão é amor entre estranhos.

Dica Cultural: Peça teatral "Simplesmente eu, Clarice Lispector"

Simplesmente eu, Clarice Lispector 
Média: 3.5 3.5

Classificação: Não recomendado para menores de 12 anos
Tempo de Duração: 60 minutos
O Globo Indica: SIM

Texto: Clarice Lispector
Adaptação e direção: Beth Goulart
Supervisão: Amir Haddad
Elenco: Beth Goulart

São Conrado
Teatro Fashion MallAté 22 dez 2013
sex e sáb 21:30 | dom 20:00
R$ 60.00 (sex); R$ 70.00 (sáb e dom)

Sinopse

O monólogo conta a trajetória de Clarice Lispector  e procura colocar em cena o universo da escritora. Para isso, parte de depoimentos, entrevistas e correspondências, além de se utilizar de trechos dos livros "Perto do coração selvagem" e "Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres", e dos contos "Amor" e "Perdoando Deus".


Prestes a completar 5 anos em cartaz, Beth Goulart fala sobre o sucesso da peça "Simplesmente eu, Clarice Lispector"
Quando subir ao palco do Teatro Fashion Mall no próximo dia 19 de julho, a atriz Beth Goulart vai completar cinco anos de “Simplesmente eu, Clarice Lispector”. Com mais de 700 mil espectadores na bagagem, o espetáculo, que ela define como híbrido, está a caminho dos sete dígitos: a temporada foi prorrogada até dezembro.

— Dá tanto orgulho ver um filho como esse, que cresceu bem e bonito e ainda faz gols. É o meu olhar sobre Clarice. Para mim, interpretar é me igualar. Eu não me nego, eu me afirmo junto com ela — analisa Beth.

Concebida pela atriz, a peça é resultado de um intenso trabalho de pesquisa em cima de textos e correspondências da escritora, que durou cerca de dois anos antes da estreia, em Brasília, em 2008.

— Ela sempre foi a minha autora de cabeceira. Me alimentei de tudo que encontrei. A última entrevista que ela concedeu à TV Cultura, pouco antes de morrer, foi importante, o áudio de seu depoimento ao Museu da Imagem e do Som, também. Ali, pude perceber o tempo dela de pensar e se expressar, a voz — conta ela sobre sua composição.

A experiência, descrita como transcendental por Beth, modificou para sempre a vida da atriz.

— Clarice leva a gente a compreender melhor o outro, a ser solidário. Ela pode ser interpretada de várias formas. Devolvo no palco minha visão dela como mulher, mãe, criadora e leitora. É uma jornada de autoconhecimento. A experiência coletiva, com a plateia, leva a isso. Acho que vem daí o sucesso. Mexe com as pessoas — avalia ela.

(por Guilherme Scarpa)


barbara heliodora 
o globo | 11:52h | 19.jun.2013 
O requinte da simplicidade
A obrade ClariceLispector tem sido motivo para vários espetáculos (quase todos monólogos), mas “Simplesmente eu. Clarice Lispector”, de Beth Goulart, em cartaz no Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), encontrou um caminho que o distingue de seus antecessores: trabalhando tanto com a obra da escritora quanto com sua biografia e informações obtidas daqueles que de perto a conheceram, a atriz (agora também autora e diretora) criou um texto que — cenicamente, é claro — é dito pela própria Clarice, seja em sua própria pessoa, em entrevistas e cartas, seja como intérprete pessoal dos personagens que criou. 

A fim de alcançar seu objetivo, Beth Goulart não só costurou com muita habilidade os depoimentos e as citações, compondo uma espéciede ampla revelaçãode vida e processo criativo, como trabalhou, com visagismo e figurinos, a figurada escritora, seu porte e seu gestual (elaborados por Márcia Rubin). Mais ainda, foi adotado o pessoal modo de falar de Clarice, justificando plenamente assim o título do espetáculo. 

A seleção dos textos literários foi cuidadosa, toda ela pensada em termos desse objetivo de dar vida à imagem da escritora, com atenção para aqueles que melhor parecem ilustrar o que ela diz de sua obra quando fala em sua própria pessoa. Um trabalho exemplar. 

O requinte da simplicidade
A encenação tem o mérito de ilustrar o quanto seria requintado um “simplesmente” de Clarice Lispector. O cenário de Ronald Teixeira e Leobruno Gama — uma circular cortina de tiras brancas (com o brilho do plástico), um piso claro — abriga poucos elementos de mobiliário, todos com as linhas dos anos 1950 ou 60, e revive a época do grande florescimento da escritora. E, com o mesmo objetivo, os irretocáveis figurinos de Beth Filipecki, trocados e alterados com grande facilidade, evocam-lhe a discrição e a elegância.

A luz de Maneco Quinderé é de primeiríssima qualidade, completando a cenografia com toda a variedade de luminosidade, sombra e clima que seriam necessários. Consta no programa que a direção de Beth Goulart teve a supervisão de Amir Haddad, porém este deve ter encontrado bem pouco para alterar em um projeto que em tudo e por tudo expressa a paixão e o trabalho da pesquisadora/autora/diretora/ atriz, que a cada trabalho vem mostrando maior aprimoramento, que rende atuações de primeira ordem.

“Simplesmente eu. Clarice Lispector” é um espetáculo e uma atuação dos melhores que a cidade tem visto nos últimos tempos.
 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

I Ciclo de apresentação de monografias dos Cursos de Letras

I Ciclo de apresentação de monografias dos Cursos de Letras


Local: FEUC - Sala A301
Evento gratuito com inscrições no Setor de Cursos Livres até o dia 12 de novembro ou até o término das vagas.
Atribuição de 05 horas de atividades complementares.
14 novembro
Programação:
Manhã (09:40-11:20)
“O FEIO NÃO ENTRA”: ANÁLISE DO ETHOS DA FAMÍLIA EM CAMPANHAS DE PUBLICIDADE DE SEGUROS DE VIDA BANCÁRIOS.
Natália Coelho Chaves.
Orientador: Prof. Dr. Adriano Oliveira Santos

Palavras – chave: Publicidade, seguros, estereótipo, ethos.

Resumo: Este trabalho pretende propor uma reflexão sobre os estereótipos que predominam sobre o ethos da família em publicidade de seguros de vida bancários, uma vez que se constata a ausência de personagens negros e de famílias que fora das do modelo tradicional, isto é, com todos os componentes felizes e seguros. A pesquisa conta com o apoio teórico de Carrascoza (2007), Jodelet (2001), Lysardo-Dias (2007), Monnerat (2003), Sandmann (2005) e Santos (2009), entre outros. A importância dessa pesquisa está no fato de poder trazer para discussão dos estudos de linguagem e da Análise do Discurso peças publicitárias cuja área temática é a de seguros de vida. Ao mesmo tempo, poder colaborar para a aplicação de seus resultados de ensino-aprendizagem de língua portuguesa como língua materna, revelando publicações desse gênero como insumos para prática leitura e produção de textos. 

ABORDAGEM DO GÊNERO TIRA EM MATERIAIS DE ENSINO DE PORTUGUÊS
Josilene de Oliveira Ferreira
Orientador: Prof. Dr. Adriano Oliveira Santos
Palavra-chave: tiras; multimodalidade; humor.
Resumo: Este trabalho apresenta a análise de algumas tiras do livro Português: linguagens, de Cereja e Magalhães (2009).Com o enfoque nesse gênero multimodal, pretende-se não só observar o aspecto verbal e visual que compõem esse gênero, mas objetiva-se, com essa análise, expor se os aspectos imagéticos que compõem o humor das tiras são abordados, ou seja, se eles são ponto de reflexão no ensino do português. Visto que as imagens também trazem informações ao leitor, não podemos desconsiderar esse fato e relevar somente as palavras como portadoras de sentido. Portanto, nosso apoio teórico encontra-se em Dionisio (2008), em seus estudos sobre Gêneros multimodais e multiletramento. O corpus está constituído, de oito tiras. A pesquisa ainda tem como apoio teórico os estudos de Bazerman (2009),Marcuschi (2005), Mendonça (2005), Ramos (2009). Enfim, justifica-se a importância desta investigação pelo fato de revelar o humor como um meio para um ensino mais dinâmico, um ensino que contemple os diferentes componentes de um texto. Esse enfoque irá atualizar a noção de que ler tiras é fazer uso da linguagem desse gênero tanto no seu aspecto verbal, quanto visual.

Noite (19:00-20:20)

A PERSONIFICAÇÃO COMO RECURSO LINGUÍSTICO-DISCURSIVO NA PROPAGANDA PUBLICITÁRIA.
Gislana Colinques Mayrinck
Orientador: Prof. Dr. Adriano Oliveira Santos
Palavras-chave: Publicidade, Personificação, Figura de pensamento.
Resumo: Este trabalho pretende propor uma reflexão sobre a utilização da personificação, figura de pensamento comum na literatura e que tem migrado para as publicidades; como se desenvolve a construção da personificação nos textos a partir da exploração de elementos como sentimentos e ações, quando associados aos seres inanimados ou irreais, transformando-os em seres pensantes. Refletir, também, sobre as formas de persuasão que envolvem os textos publicitários e como estes manipulam os pensamentos e mudam as ideias de forma sedutora ou persuasiva e, por fim, considerar, também, que a gama de recursos disponíveis neste gênero textual é de grande riqueza para o ensino, pois abarca elementos visual, verbal, sintático, semântico, humor etc. o que torna o ensino mais atraente e agradável, fazendo do aluno um sujeito mais crítico. Para constituição do “corpus” utilizaremos dez publicidades de produtos diversos, publicados em duas revistas tipicamente femininas, Marie Claire e Criativa. Trabalharemos com o conceito de linguística voltada para análise do discurso. A base teórica que sustenta está pesquisa encontra-se em Monnerat (2003); Carrascoza (2005); Sandmann (2007) e Carvalho (2000). Portanto, buscamos com esta pesquisa,
trazer uma proposta didática de ensino, articulando os resultados obtidos com o ensino / aprendizagem da língua portuguesa em sala de aula.

O VALOR PEJORATIVO DO SUFIXO “-INHO(A)” NAS MANCHETES DO JORNAL MEIA-HORA DE NOTÍCIAS.
Tiago de França Soares Coutinho
Orientador: Prof. Dr. Adriano Oliveira Santos
Palavra-chave: Jornal; gêneros textuais; manchete.
Resumo:Este trabalho visa apontar as tendências pejorativas ocorridas na semântica do sufixo “-inho(a)” em manchetes do jornal Meia-Hora de Notícias, tendo como objetivo observar a frequência desse sufixo com esse valor. A pesquisa consiste em analisar com que sentido o sufixo indicador de pequenez, afetividade e intensidade tem aparecido nas manchetes desse jornal, levando em consideração fatores como os aspectos cromáticos, as imagens e as linguagens. Ressalta-se que as variações de sentido que o sufixo “-inho” apresenta no jornal estão diretamente ligadas a uma sociedade que busca informação rápida, codificadas por uma aproximação linguística e cromática com cores fortes, que possibilita o jornal conseguir a atração de um público com menos acesso à cultura. A pesquisa se apoia nas definições de BAKHTIN (1997), MARCUSCHI (2007) e LAGES (2002). Este trabalho, portanto, além de descrever, pretende articular a uma prática de ensino de português informando os diversos usos linguísticos, por meio de atividades didáticas apontando para nova forma escrita de linguagem, a partir de novas criações linguísticas utilizadas pelo leitor, fazendo com que o jornal utilize meios que se aproximem deste
público.

OS VIESES PERSUASIVOS DO DISCURSO PUBLICITÁRIO EM PROPAGANDAS TABAGISTAS.
Mayara Gabriela Souza Teixeira
Orientadora: Profª. Ana Lúcia Rimes
Palavra-chave: Linguagem; Propaganda; Persuasão; Cigarro; Atividades da linguagem

Resumo em língua portuguesa como está na monografia.
Resumo: TEIXEIRA, Mayara Gabriela Souza. Os vieses persuasivos do discurso publicitário em propagandas tabagistas. Rio de Janeiro: FIC, 2012. Monografia.
A linguagem é a principal ferramenta da humanidade, que a utiliza para alcançar seus interesses. Na publicidade não é diferente, pois se pode observar a utilização da linguagem através de recursos estilísticos e argumentativos para atrair leitores e convencê-los de uma ideia por meios racionais, ou até mesmo, através de apelos emocionais. A propaganda emprega esses recursos de maneira consciente e intencional, e há sempre um objetivo claro e previamente estabelecido predeterminado. Toda esta persuasão sedutora é retratada neste trabalho através do discurso publicitário das propagandas tabagistas, e da análise investigativa dos vieses persuasivos por onde ela caminha, traçando um paralelo comparativo e contrastivo entre as propagandas de cigarro da década de 1970 e as das décadas de 2000 e 2010. Com base no teórico Patrick Charaudeau (2005), que postula sobre os quatro tipos de atividades da linguagem.

Noite (20:30-21:50)
AS INFLUÊNCIAS SINTÁTICAS DO PORTUGUÊS (L1) NA AQUISIÇÃO DO INGLÊS (L2): UM ESTUDO DE CASOS
Victor Ramos da Silva
Orientadora: Profª. Drª. Lia Santos de Oliveira Martins
Palavra-chave: Palavras-Chave: Gerativismo, Princípios e Parâmetros, Sintaxe, Aprendizagem de L2, Ensino de Línguas, Interferência.
Resumo: O presente estudo trata da aquisição de Inglês como segunda língua (L2) com base no
Programa Minimalista de Princípios e Parâmetros propostos por Noam Chomsky (1995). Também, preocupa-se em instituir uma relação entre a aprendizagem e a aquisição e, nessa relação, em focar nas influências (transferências e interferências) do Português, como primeira língua (L1), na aquisição do Inglês,
como segunda língua (L2), com atenção especial nas influências das estruturas sintáticas nesse processo. A metodologia utilizada no escopo desta pesquisa é a apresentação de teorias relacionadas à aquisição de L1 e L2, os principais fatores e causas de influências de Português L1 no Inglês L2 e a análise do corpus
composto por composições e pelos testes feitos com alunos iniciantes e avançados de Inglês L2 em cursos de inglês, a fim de entender quais os fatores que contribuem mais na influência estrutural dentro de suas interlínguas. Portanto, o objetivo principal deste trabalho é mostrar que a primeira língua é uma parte ativa do processo interlinguístico de aquisição da segunda língua cf DEL RÉ (2009) e que as estruturas de Português L1 estão na gramática interna e no discurso de ambos, aprendizes iniciantes e avançados de Inglês L2, de acordo com suas idades, níveis de educação formal e, acima de tudo, o número de inputs recebidos.

UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS DISCURSOS RELIGIOSOS DO PASTOR JONATHAN EDWARDS E PADRE ANTONIO VIEIRA NAS RESPECTIVAS COLÔNIAS
NORTE-AMERICANA E BRASILEIRA

Priscila Helena S. de O. Salvador
Orientadora Prof. Ms.Renata de Souza Gomes
Palavra-chave: Discurso- ideologia- colonização
Resumo:A fala é utilizada como diversos mecanismos discursivos, e é também um objeto de poder. A mesma age diretamente na formação de ideologias e sua reprodução, bem como no comportamento do ouvinte. Objetiva-se, por conseguinte, através de uma pesquisa histórica e gramatical analisar o discurso
de Antônio Vieira e Jonathan Edwards e o porquê da influência desses líderes religiosos no período colonial. Dessa forma, investigar-se-ão as estratégias de poder e persuasão empregadas através dos discursos proferidos pelo pastor norte-americano e pelo padre português em seus sermões Pecadores Nas Mãos
de Um Deus Irado de Jonathan Edwards e o Primeiro Sermão da Primeira Dominga da Quaresma de Antônio Viera. Foi possível através desta pesquisa relatar uma breve história da colonização brasileira e norte americana para um melhor entendimento do leitor, a biografia destes líderes religiosos e os elementos
persuasivos os quais utilizaram em seus discursos, dessa forma, ambos possibilitaram de forma muito clara o objetiva uma estrutura que foi usada como modelo para os discursos religiosos conseguintes.