segunda-feira, 30 de junho de 2014

MATÉRIA DA NOVA REVISTA FEUC EM FOCO SOBRE A SEMANA DE LETRAS 2014

Arte e cultura como tempero



Semana acadêmica é enriquecida por atividades que alimentam a alma
Por Tania Neves
emfoco@feuc.br
Iniciada com um recital em homenagem ao poeta Primitivo Paes e encerrada com sarau de música e poesia, a XXIII Semana de Letras mais uma vez se destacou pela grandiosidade e variedade da programação, que contou com mais de 50 atividades e reuniu um público superior a 400 pessoas nos três dias do evento. Em meio às muitas palestras e apresentações de trabalhos acadêmicos, os participantes puderam também se deliciar com sessões em que o objetivo maior era mexer com as emoções e as sensações.
Sílvia e o filho Matheus Cesar visitam a instalação ‘Projeção de letras em luzes e formas’. (Foto: Tania Neves)
Sílvia e o filho Matheus Cesar visitam a instalação ‘Projeção de letras em luzes e formas’. (Foto: Tania Neves)
Foi o caso da instalação “Projeção das Letras em luzes e formas, sobre um olhar machadiano”, idealizada pelo aluno de Letras Adriano Marcelo com inspiração na obra e no universo de Machado de Assis. Numa sala toda revestida de tecido preto e com iluminação colorida, os visitantes eram convidados a ler pequenos trechos de obras do escritor e interagir com o ambiente. Muitos diziam experimentar uma sensação maior de atenção, que fazia com que os trechos lidos ficassem ressoando na cabeça mesmo depois de sair da sala. Para Adriano, esse efeito poderá fazer com que a pessoa depois busque aquela obra para uma leitura mais aprofundada. “Esse é o objetivo da instalação: propiciar a identificação da pessoa com a obra de Machado, a partir da curiosidade que uma proposta diferente pode provocar”.
A estudante de Letras Sílvia da Silva Ferreira gostou tanto que foi buscar o filho Matheus César, aluno do Pré 2 do CAEL, para ver também. E o que mais encantou o menino foi a máquina de escrever exposta sobre a mesinha no centro da instalação. “Aproveitei para explicar a ele que o computador não existiu desde sempre”, brincou Sílvia.
Grupo encena peça de Roberto Espina sobre contradições da propriedade privada. (Foto:  Ricardo Nielsen)
Grupo encena peça de Roberto Espina sobre contradições da propriedade privada. (Foto: Ricardo Nielsen)
No recital “Primitivo vive”, a presença da família do poeta na plateia foi um incentivo a mais para a performance emocionada de alunos e professores.    As filhas Joelma e Adriana e os netos Tiago, Diego e Derick acompanharam as boas vindas dadas pelo professor Erivelto Reis, a leitura de poemas feita por ele e os alunos Rafael Menezes, Carlos Alberto de Castro, Carlos Alberto Loureiro, Isabelle Brum, Julio Cesar Alves, Ramayana Del’Secchi, Raquel Ladeira, Elba Gaya e, por fim, um discurso emocionado da coordenadora de Letras, Arlene da Fonseca Figueira: “Educação não se faz só com conteúdos, metodologias. A arte também nos ajuda muito a aprender. E desde que o Erivelto trouxe o Primitivo aqui pela primeira vez, não parei de aprender com ele. Ele ensinou e encantou muito a nós todos”, disse Arlene, referindo-se à participação constante do poeta nos eventos acadêmicos e artísticos da FEUC.
O professor Cícero e os DVDs de Chico Buarque: momentos lúdicos durante palestras. 9Foto: Tania Neves)
O professor Cícero e os DVDs de Chico Buarque: momentos lúdicos durante palestras. 9Foto: Tania Neves)
Outro destaque cultural foi a apresentação da peça “O proprietário”, do dramaturgo argentino Roberto Espina, pelo grupo formado pelos alunos de Letras Maurício José da Fonseca e Suely do Carmo Resende, além dos professores do município Cimara Mattos e Will Tom. Segundo Maurício, o grupo é o único autorizado a representar as peças de Espina no Brasil. A obra – que Maurício adota bastante em encenação nas escolas – aborda a questão da propriedade privada, a partir de divertidos diálogos entre um sujeito que é dono de um lugar e outro que chega para usufruir do lugar.
Também nas atividades desenvolvidas durante os três dias de evento pelo professor Cícero Sotero Batista na sala de vídeos da Biblioteca, com base na obra de Chico Buarque (que acaba de completar 70 anos), o componente lúdico esteve em alta, já que Cícero apresentou muitos trechos de DVDS de Chico para ilustrar suas explanações sobre as possibilidades de uso da canção popular em atividades de sala de aula. “A canção é um produto singular da cultura brasileira, pois faz uma ponte entre a cultura oral e a cultura escrita”, argumentou o professor, incentivando muito os alunos a explorarem essa peculiaridade quando se tornarem professores.
No encerramento da semana, houve fôlego ainda de parte do público para curtir a apresentação poético-musical “As belas canções de Chico”, no auditório. O sarau contou com a participação de Cícero, Erivelto e Flávio Pimentel, entre outros professores e alunos.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Um poema de Drummond sobre a Copa do México em 1970


COPA DO MUNDO DE 70
Carlos Drummond de AndradeI

 MEU CORAÇÃO NO MÉXICO
Meu coração não joga nem conhece
as artes de jogar. Bate distante
da bola nos estádios, que alucina
o torcedor, escravo de seu clube.
Vive comigo, e em mim, os meus cuidados.
Hoje, porém, acordo, e eis que me estranho:
Que é de meu coração? Está no México,
voou certeiro, sem me consultar,
instalou-se, discreto, num cantinho
qualquer, entre bandeiras tremulantes,
microfones, charangas, ovações,
e de repente, sem que eu mesmo saiba
como ficou assim, ele se exalta
e vira coração de torcedor,
torce, retorce e se distorce todo,
grita: Brasil! Com fúria e com amor.

II / MOMENTO FELIZ
Com o arremesso das feras
e o cálculo das formigas
a Seleção avança
negaceia
recua
envolve.
É longe e em mim.
Sou o estádio de Jalisco, triturado
de chuteiras, a grama sofredora
a bola mosqueada e caprichosa.
Assistir? Não assisto. Estou jogando.
No baralho de gestos, na maranha
na contusão da coxa
na dor do gol perdido
na volta do relógio e na linha de sombra
que vai crescendo e esse tento não vem
ou vem mas é contrário... e se renova
em lesta lesma de replay.
Eu não merecia ser varado
por esse tiro frouxo sem destino.
Meus onze atletas
são onze meninos fustigados
por um deus fútil que comanda a sorte.
É preciso lutar contra o deus fútil,
fazer tudo de novo: formiguinha
rasgando seu caminho na espessura
do cimento do muro.

Então crescem os homens. Cada um
é toda a luta, sério. E é todo arte.
Uma geometria astuciosa
aérea, musical, de corpos sábios
a se entenderem, membros polifônicos
de um corpo só, belo e suado. Rio,
rio de dor feliz, recompensada
com Tostão a criar e Jair terminando
a fecunda jogada.

E gooooooooool na garganta florida
rouca exausta, gol no peito meu aberto
gol na minha rua nos terraços
nos bares nas bandeiras nos morteiros
gol
na girandolarrugem das girândolas gol
na chuva de papeizinhos celebrando
por conta própria no ar: cada papel,
riso de dança distribuído
pelo país inteiro em festa de abraçar
e beijar e cantar
é gol legal é gol natal é gol de mel e sol.

Ninguém me prende mais, jogo por mil
jogo em Pele o sempre rei republicano
o povo feito atleta na poesia
do jogo mágico.
Sou Rivelino, a lâmina do nome
cobrando, fina, a falta.
Sou Clodoaldo rima de Everaldo.
Sou Brito e sua viva cabeçada,
com Gérson e Piazza me acrescento
de forças novas. Com orgulho certo
me faço capitão Carlos Alberto.
Félix, defendo e abarco
em meu abraço a bola e salvo o arco.

Como foi que esquentou assim o jogo?
Que energias dobradas afloraram
do banco de reservas interiores?
Um rio passa em mim ou sou o mar atlântico
Passando pela cancha e se espraiando
por toda a minha gente reunida
num só vídeo, infinito, num ser único?

De repente o Brasil ficou unido
contente de existir, trocando a morte
o ódio, a pobreza, a doença, o atraso triste
por um momento puro de grandeza
e afirmação no esporte.
Vencer com honra e graça
com beleza e humildade
é ser maduro e merecer a vida,
ato de criação, ato de amor.
A Zagalo, zagal prudente,
e a seus homens de campo e bastidor
fica devendo a minha gente
este minuto de felicidade.


segunda-feira, 2 de junho de 2014

MAIS UM BELO REGISTRO FEITO PELA REVISTA FEUC EM FOCO SOBRE A XXIII SEMANA DE LETRAS DAS FIC

XXIII Semana de Letras inicia com poesia, apresentação de trabalhos e debates


Programação conta com mais de 50 atividades distribuídas durante os três dias do evento, que acontece até sexta-feira (23)
Por Gian Cornachini
emfoco@feuc.br
A XXIII Semana de Letras das FIC começou nesta quarta-feira, trazendo 50 atividades espalhadas por diversos espaços da FEUC. Os temas são variados, mas o fio condutor central desta edição é “Discurso e intertextualidade: caminhos e descaminhos do dizer”. A expectativa é de que o evento, que vai até a sexta-feira, dia 23, movimente mais de 400 pessoas durante a programação, que conta com palestras de professores da casa e externos, cine-debates, saraus musicais, exposições de trabalhos dos estudantes, entre outras atividades.
Estudantes fazem o credenciamento no evento para participar das dezenas de atividades programadas. (Foto: Gian Cornachini)
Estudantes fazem o credenciamento no evento para participar das dezenas de atividades programadas.
(Foto: Gian Cornachini)
Manhã de poesia
Para começar a semana de forma agradável, uma das primeiras atividades marcadas foi “Momentos, Leituras, Releituras, Traduções de Sentimentos…”, conduzida pelo professor Mauro Ferreira de Oliveira e pela estudante do curso de Letras Priscila da Silva Lima. A dupla apresentou poesias e músicas, e fez uma análise dos sentidos e sensações desdobradas a partir daqueles textos.
Professor Mauro e a aluna Priscila discutem o universo da poesia. (Foto: Gian Cornachini)
Professor Mauro e a aluna Priscila discutem o universo da poesia. (Foto: Gian Cornachini)
Em uma de suas falas, Priscila valorizou o uso de palavras inseridas em um determinado contexto, indicando que frases completas promovem ações prazerosas: “Quando digo ‘amo’, a gente sabe o que significa essa palavra, mas ela não representa muito. Mas quando digo ‘eu te amo’, além de te fazer feliz, você acaba fazendo o dia de outra pessoa feliz”, valorizou a estudante.
Mauro destacou que, para um poeta, existe uma maneira de não morrer: “Carlos Drummond não morreu, Machado de Assis não morreu. O homem descobriu uma maneira de sobreviver: através da arte”, observou o professor. “Toda vez que houver sentimento, vida, a poesia estará presente. E nós agradecemos, porque poesia é vida”, concluiu ele.
Apresentação de trabalhos
Filipe: "Os conceitos de morfologia são muito diluídos nesses livros didáticos". (Foto: Gian Cornachini)
Filipe: “Os conceitos de morfologia são muito diluídos nesses livros didáticos”. (Foto: Gian Cornachini)
A manhã de abertura da Semana de Letras também deu oportunidade para estudantes apresentarem seus trabalhos desenvolvidos em sala de aula. A professora Arlene da Fonseca Figueira, coordenadora dos cursos de Letras, esteve tutoriando a atividade “Discurso e intertextualidade: confronto entre os conceitos postulados pela Gramática Normativa e as propostas dos livros didáticos de Língua Portuguesa”. Alunos do 3° período do curso desenvolveram trabalhos em cima do tema que, segundo Arlene, é preciso ser debatido: “Os livros didáticos têm uma linguagem que não se aproxima muito dos estudantes. E você não matricula um aluno em uma escola sem antes gastar mais de R$ 1,5 mil com esses materiais, que são sempre os das mesmas editoras favorecidas em cartéis da educação”, lamenta Arlene.
Poema de Filipe Santos de Carvalho, estudante do 3º período de Letras/Inglês
Poema de Filipe Santos de Carvalho, estudante do 3º período de Letras/Inglês
O aluno Filipe Santos de Carvalho, do curso de Inglês, apresentou um estudo que demonstrava o confronto que há entre a Gramática Normativa e a Gramática Básica do livro didático. “Nós escolhemos um livro didático e fomos na Gramática Normativa para ver como os conceitos de morfologia são muito diluídos nesses livros didáticos, dando a impressão de que é só aquilo que existe”, explicou Filipe.
Em seguida, o estudante apresentou um poema que escreveu especialmente para seu trabalho (leia o texto na imagem ao lado). A mensagem central é de que o professor tem capacidade de ensinar de uma maneira diferente aquilo que é difícil. Para isso, basta ter criatividade.
A estudante Maria Teles, do 1° período de Espanhol, assistiu à apresentação do trabalho e refutou a teoria de Filipe: “É preciso ver em que escola você vai dar essa aula diferente, porque há lugares que não deixam fazer isso. Como é que vou dar uma aula em uma escola que não quer que o professor seja dinâmico?”, questionou Maria.
A resposta de sua dúvida veio em dose dupla. Filipe lamentou que é muito chato trabalhar em um lugar em que as pessoas não deixam você ir mais além: “Mas você ainda tem que achar uma maneira de cativar o seu aluno, por mais que não deixem você fazer seu trabalho como quer”, insistiu o estudante. Já a professora Arlene fez uma observação mais profunda, relembrando atitudes próprias durante seu percurso profissional na rede pública de ensino: “Eu tinha que pagar minhas contas, então entrei em uma escola que acabei vendo depois que não tinha meu perfil. Não dava mais para eu ficar lá, pois não conseguia fazer um bom trabalho. Resolvi pegar meu currículo e procurar outras escolas, me apresentar para coordenadores e dizer quais eram minhas propostas. E isso foi muito bom!”, contou ela. “Vocês têm que ter essa coragem, porque há lugares que são tão fechados que não dá para transpor barreiras. E aprender e ensinar são atos de amor, de carinho, que envolvem o riso, a gargalhada”, ressaltou a professora.
Arlene: "Aprender e ensinar são atos de amor, de carinho, que envolvem o riso, a gargalhada". (Foto: Gian Cornachini)
Arlene: “Aprender e ensinar são atos de amor, de carinho, que envolvem o riso, a gargalhada”.
(Foto: Gian Cornachini)
Sobre a XXIII Semana de Letras
Arlene, que além de coordenadora dos cursos de Letras é, também, Diretora de Ensino da FEUC, explicou a proposta desta edição da Semana de Letras e apontou suas expectavas para o evento. A professora espera que mais de 400 pessoas estejam envolvidas, de alguma maneira, com esse evento tradicional da instituição, que tem como objetivo este ano fazer o público pensar acerca dos discursos e ideologias por trás das falas: “Os alunos precisam refletir os discursos e as forças ideológicas que vendem muitas ideias e conceitos comprados por todos nós. Sendo mais críticos, os estudantes conseguirão conhecer os caminhos e descaminhos desses discursos”, explicou Arlene. “Por isso, espero que eles saiam daqui com uma pulga atrás da orelha em relação a tudo aquilo que é dito pela mídia, pelo poder e por nós, porque não há um dizer neutro. Todo dizer é cheio de significados”, finalizou.

ALUNOS DE LETRAS SE PREPARAM PARA A FORMATURA - VIA REVISTA FEUC EM FOCO

Estudantes de Letras se preparam para formatura


Vestidos com as tradicionais becas, os alunos foram fotografados para montar seus álbuns de formatura
Por Gian Cornachini
emfoco@feuc.br
Três turmas dos cursos de Letras das FIC se reuniram, nos dias 27, 28 e 29, para um ensaio fotográfico de formatura. A fim de compor um álbum de imagens para recordar a graduação, a sessão de fotos foi realizada com os estudantes vestidos com as tradicionais becas, roupas utilizadas nas cerimônias de formatura.
De acordo com o coordenador acadêmico das FIC, professor Valdemar Ferreira da Silva, a FEUC fornece as cerimônias de colação de grau sem custo aos estudantes das Faculdades, e apenas o investimento no trabalho fotográfico fica a cargo dos alunos, caso queiram adquirir o álbum da formatura posteriormente. No entanto, outras imagens ainda estão por vir, pois a colação de grau está marcada para o dia 30 de agosto deste ano, data em que os estudantes cumprirão o ritual de passagem da faculdade para adquirir o diploma e, também, reunir a família para comemorar o título de graduado.
A aluna Genilda Rita da Silva Fragoso, do 7º período de Literaturas, foi a primeira formanda das turmas de Letras deste ano a se vestir com a beca e posar para o ensaio fotográfico. Segundo Genilda, o momento é um marco em sua história de superação: “É um misto de emoção, de ansiedade, de realização, de superação. Eu passei por alguns momentos muito difíceis, de perda do meu pai, da minha mãe e irmã ao mesmo tempo, neste período de estudos. Pensei em desistir, mas com o apoio de amigos e professores da faculdade, consegui levar meus estudos adiante e, hoje, estou aqui alcançando meu objetivo”, comemora ela.
Genilda: "Eu me lembrarei sempre daqui, dos meus amados amigos e professores". (Foto: Gian Cornachini)
Genilda: “Eu me lembrarei sempre daqui, dos meus amados amigos e professores”.
(Foto: Gian Cornachini)
Genilda também conta que sua graduação será um período inesquecível, visto que a FEUC foi um espaço que lhe permitiu a construção de fortes laços de amizade: “Eu me lembrarei sempre daqui, dos meus amados amigos e professores. Foi uma escola tanto de aprendizagem quanto de sentimento e de amizade. Algo que eu vou guardar para o resto da vida. E espero o sucesso. Sempre!”, ressaltou a aluna, com um bom sorriso no rosto.
Alunos também levaram suas câmeras para também registrarem o momento. (Foto: Gian Cornachini)
Alunos também levaram suas câmeras para também registrarem o momento. (Foto: Gian Cornachini)

ARTIGO DA REVISTA FEUC EM FOCO SOBRE A XXIII SEMANA DE LETRAS DAS FIC

Língua e Literatura para todos os gostos


Palestras,  debates  e atividades culturais do encontro acadêmico do curso de Letras abrangeram temas variados e repetiram clima dinâmico de outras edições

Por Tania Nevesemfoco@feuc.br
Fiel ao que já se tornou uma tradição, a XXIII Semana de Letras movimentou os espaços da FEUC entre quarta e sexta-feira da semana passada, oferecendo cerca de 50 atividades espalhadas pelas manhãs e noites dos três dias de evento, a maioria reunindo um numeroso público. Entre os destaques estão a homenagem feita ao poeta Primitivo Paes, na noite de quarta-feira, com o auditório lotado; o Espaço Chico Buarque, coordenado pelo professor Cícero Sotero Batista, que teve palestras e oficinas durante todos os dias, no que o professor Erivelto Reis salientou ter sido o primeiro evento acadêmico no Rio de Janeiro em homenagem aos 70 anos do cantor e compositor; e a instalação “Projeção das Letras em luzes e formas, sobre um olhar machadiano”, idealizada pelo aluno Adriano Marcelo Leandro Monte. A exposição de pôsteres no pátio também foi um ponto alto, com quase duas dezenas de trabalhos, a maioria fazendo análise de discurso de temas atuais como Copa do Mundo, notícias de jornais e campanhas publicitárias.
O Maestro David de Souza rege o Coro Ecos Sonoros, formado por alunos e alunas, na homenagem a Primitivo
O Maestro David de Souza rege o Coro Ecos Sonoros, formado por alunos e alunas, na homenagem a Primitivo
A homenagem ao poeta Primitivo Paes, falecido ano passado, se iniciou com uma apresentação do Coro Ecos Sonoros, regido pelo maestro David de Souza, com canções ensaiadas especialmente para a ocasião (“Tem que ser assim”, “Vamos fugir”, “Wave” e “Alfabeto”). O sarau a seguir ficou a cargo do professor Erivelto Reis e um grupo de alunos que leram algumas das poesias de Primitivo. Na plateia, a família do artista – filhas e netos – prestigiou a apresentação. “Desde que Erivelto trouxe o Primitivo aqui, para participar de nossos eventos de Letras, eu aprendi muito com ele. Tudo para ele era motivo de alegria, riso, gargalhada. Ele me ensinou muito e ensinou também o meu filho a amar poesia. Ele via o Primitivo e ficava encantado com o jeito tão leve, genuíno, primitivo mesmo. Hoje ele tem 12 anos e passou a ter um gosto especial por escrever poesias, e me pergunta: ‘mãe, será que vou ficar igual a ele?’. Tomara que sim”, disse na abertura a professora Arlene da Fonseca Figueira, coordenadora de Letras.
Atividades espalhadas por diversos espaços da FEUC
Paralelamente à homenagem no auditório, outros eventos aconteciam, como as sessões de Comunicações Individuais e Coordenadas (com professores e alunos das FIC) e palestras dos professores convidados Ronaldo Lima Lins (“A humanidade ferida”), Carina Lessa (“Em Liberdade: um discurso falso mentiroso, se Silviano Santiago”) e Cida Gonda (“Literatura e Revolução dos Cravo”), entre outros.
Norma Jacinto na palestra "Repensando o Português":  é preciso respeitar a variedade linguística do país (Foto: Ricardo Nielsen)
Norma propõe “Repensar o Português”: é preciso respeitar variedade linguística do país (Foto: Ricardo Nielsen)
No segundo dia do evento, entre as palestras mais concorridas estiveram “Repensando o Português do Brasil com Rosa Virgínia Mattos e Silva, Rodolfo Ilari, Renato Basso e Marcos Bagno”, ministrada pela professora Norma Jacinto; “A inclusão e seus diferentes saberes”, pela convidada Bárbara Andrade; e “O discurso do jogo dos poderes: em foco a recente greve (2013) dos profissionais da rede pública da educação básica do Rio de Janeiro”, com a professora Arlene da Fonseca Figueira. Em sua fala, Norma ressaltou que não há um único modo correto de falar o português, e por isso os diferentes sotaques e saberes dos alunos devem ser respeitados e acolhidos pelo professor, sem prejuízo de sua função de ensinar a norma padrão. “O aluno tem uma gramática internalizada, que é a do grupo com o qual ele convive. Se não está de acordo com a norma padrão, não significa que ele não sabe português. Certa vez recebi um aluno que simplesmente não falava, pois o levaram a ter vergonha de seu sotaque nordestino. Então eu disse: ‘Você não fala que é pra eu não ouvir o sotaque lindo que você tem? Sou apaixonada pelo sotaque do Nordeste, sempre que passo um tempo lá eu voltou cantando…’ e o aluno passou a se sentir bem na turma e começou a falar”.
Barbara
Bárbara: declaração de amor à profissão e a duas professoras em especial (Foto: Ricardo Nielsen)
Também em sua palestra, a hoje professora da Faetec e ex-aluna das FIC Bárbara Andrade chamou a atenção dos futuros professores sobre a importância de eles se empenharem verdadeiramente pela inclusão dos alunos, vencendo as barreiras que se apresentam em vez de se render a elas: “Claro que há falha do sistema, nem sempre as condições necessárias estão dadas, mas muitas vezes há falha também do professor, ele também exclui, deixa de fazer o que está a seu alcance para o aluno se incluir. Dá trabalho? Tudo dá. Mas o professor que constrói uma atividade com o objetivo de contemplar um único aluno com comprometimento acaba tornando aquela atividade estimulante para todos”, ensinou, em seguida fazendo uma declaração de amor à profissão e a duas professoras da FEUC em especial: “Fui aluna daqui há 10 anos e estou muito feliz de retornar. E a prova de que o professor é fundamental na vida dos alunos é que tive aqui diversos professores que enriqueceram muito a minha prática, em especial as professoras Irene Viana e Ana Lúcia Rimes. Espero que vocês também encontrem referências assim”.
A abordagem crítica aos livros didáticos, feita no primeiro dia do evento em atividade com alunos tutoriada pela professora Arlene, voltou a ser tema  nas comunicações coordenadas que o professor Erivelto Reis mediou no dia seguinte.  Alunos e alunas apresentaram os resultados – acertos e dificuldades – da preparação de uma prova de aula. Muitos, como Guy Soarrê, relataram a dificuldade de encontrar em livros didáticos os temas que escolheram para abordar (no caso dela, as cantigas de trabalho que fazem parte do nosso folclore). O que corrobora a tese de Erivelto de que nem sempre o livro didático é suficiente para atender às necessidades da educação: “O professor não deve ser só um administrador do conteúdo proposto pelos livros, mas ter autonomia para testar outras possibilidades, adequar os conhecimentos à realidade de cada turma, cada aluno se possível. Paulo freire fazia isso, e conseguia aproximar as pessoas da leitura, do exercício da cidadania”.
Letras, luzes, Machado… e os 70 anos de Chico Buarque
A aluna de Letras Silvia da Silva Ferreira levou o filho Mateus César, do Pré II do CAEL, para ver a instalação
A aluna de Letras Silvia da Silva Ferreira levou o filho Mateus César, do Pré II do CAEL, para ver a instalação
Não houve quem entrasse na sala A405 que não saísse de lá encantado: a instalação do aluno Adriano Marcelo inspirada na obra e no universo de Machado de Assis era impactante. Num ambiente revestido de panos pretos, ele espalhou pelas paredes e chão cartazes com os resumos de 32 obras do escritor, com uma máquina de escrever no centro e um jogo de luzes que a todo momento ressaltava ou ocultava detalhes. O objetivo, segundo Adriano, era estimular a curiosidade dos visitantes. “Muita gente só olhava, outros liam trechos e memorizavam alguma coisa com a intenção de depois consultar a obra”, explicou.

Na sala de vídeos da Biblioteca, o professor Cícero Sotero Batista conduziu durante todos os dias uma série de palestras e oficinas tendo como mote a obra de Chico Buarque, que mês que vem completa 70 anos. A alma feminina, as canções e obra literária do compositor e escritor foram alguns dos temas abordados, sobretudo as possibilidades de uso da canção em atividades de sala de aula. “A ideia é trabalhar a canção como um produto singular da cultura brasileira, pois ela faz uma ponte entre a cultura oral e a cultura escrita. Pode-se começar com as canções e depois alçar voos maiores, estudando os textos mais integralmente”, disse o professor.
 Lançamento de livros
A Semana de Letras teve ainda o lançamento de dois livros: “Cinema no Brasil – Impressões”, do professor da FAMA Eleazar Diniz dos Santos; e “A face oculta do verso”, da professora das FIC Rita Gemino. Também poeta, ela reuniu no auditório um grupo de alunos das licenciaturas e, antes de falar especificamente sobre este mais recente livro, fez um apanhado sobre suas obras anteriores – muitas delas concebidas com o intuito de auxiliar o trabalho em sala de aula, em DVDs e CD-Roms – e contou com a colaboração de voluntárias para ler seus poemas.